MANIFESTO
Laboratório de Estudos e
Pesquisas Marxistas
[LEMARX]
Nunca foi tão premente retomar
os estudos, pesquisas e ações inspiradas na teoria social de Karl
Marx e Friedrich Engels. O marxismo constitui o ápice a que as
Ciências Sociais chegaram na análise da história do ser social,
das idéias e do surgimento, desenvolvimento, transformações e
condições de superação da sociedade capitalista sob a perspectiva
da emancipação humana, em direção a uma sociabilidade capaz de
garantir o livre desenvolvimento de cada indivíduo como condição
para o livre desenvolvimento de todos os indivíduos.
Evidentemente, a existência de
indivíduos omnilaterais
–
de homens que pensem e trabalhem, que tenham acesso e sejam criadores
dos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade, que
controlem todas as etapas da produção social e construam a
sociedade de forma associada e em relações de cooperação, enfim,
que possam compartilhar das artes, das ciências e da cultura – não
pode se dar numa sociedade marcada pela desigualdade social,
econômica e política; onde o capital e o lucro são os motores das
ações dos indivíduos; o ter é mais nobre que o ser; a miséria e
a opulência convivem mutuamente; os conhecimentos e os avanços
científicos são acessados por poucos e milhões são afetados pelo
desemprego, fome e pelas doenças.
Vivemos em uma sociedade em que
se combinam as mais modernas aquisições da ciências
(microeletrônica, robótica, energia atômica, clonagem,
células-tronco etc.) com as formas mais vis de exploração de
relações sociais, que além de exponenciar a exploração do
trabalho pelo capital, reabilitam formas ainda mais antigas e
precárias de exploração do homem pelo homem, como o trabalho
infantil, trabalho escravo e a informalidade crescente.
É também uma época de
destruição dos direitos e conquistas mais elementares que os
trabalhadores obtiveram nos últimos 150 anos de lutas contra o
capital. Mundo afora, o capitalismo, legitimado pelo neoliberalismo,
promove reformas do ensino, trabalhista, sindical, previdenciária,
com o desiderato exclusivo de favorecer a acumulação de capital e a
retomada das taxas de lucros dos capitalistas em detrimento da
maioria dos indivíduos. Continentes inteiros como a África
encontram-se mergulhados na miséria social. Nem a natureza escapa da
fúria do capital, pondo em risco a própria existência da
humanidade.
“Os
países ricos, que representam apenas 15% da população mundial,
controlam mais de 80% do rendimento global, sendo que aqueles do
hemisfério sul, com 58% dos habitantes da terra, não chegam a 5% da
renda total. Considerada, porém, a população mundial em seu
conjunto, os números do apartheid
global
se estampam com maior clareza: os 20% mais pobres dispõem apenas de
0,5% do rendimento mundial, enquanto os mais ricos, de 79%. Basta
para isso pensar que um único banco de investimento, o Goldman
Sachs,
divide anualmente o lucro de US$2,5 bilhões entre 161 pessoas,
enquanto um país africano, como a Tanzânia, com um PIB de apenas
US$2,2 bilhões, tem de sustentar 25 milhões de habitantes. A
concentração (de riqueza) chegou ao ponto de o patrimônio conjunto
dos raros 447 bilionários que há no mundo ser equivalente à renda
somada da metade mais pobre da população mundial – cerca de 2,8
bilhões de pessoas” (Mello, 1999:260).
No campo do conhecimento, com a
crise estrutural do capitalismo, aprofundada a partir da década de
1970, e com ela a desagregação do Estado de bem-estar social, a
implementação de políticas neoliberais, a reestruturação
produtiva, o violento aumento da financeirização da economia e do
capital volátil, o desemprego crônico, combinados com o
enfraquecimento do movimento socialista em nível mundial criaram a
base para o fortalecimento de teorias, nas ciências sociais, que
sequer podiam ser seriamente consideradas há meio século, tais como
o “pós-modernismo”, “o fim da sociedade do trabalho”, “o
esgotamento das utopias do trabalho”, e, na educação, as
concepções de “sociedade do conhecimento”, “aprender a
aprender”, entre outras.
A crise estrutural do capital,
por suas contradições imanentes, recoloca permanentemente o
conflito entre capital e trabalho e, por conseqüência, reacende a
chama do marxismo. Observam-se tendências de lutas sociais na Europa
(greves de estudantes e operários na França e Alemanha), na América
(combates contra as reformas neoliberais e o imperialismo) e na Ásia
(luta pela autodeterminação dos povos). Os trabalhadores,
camponeses, estudantes e demais oprimidos são, por suas condições
socioeconômicas, obrigados a atritar-se contra a sanha de lucro do
capital.
São essas condições objetivas
e subjetivas que nos levaram a organizar um grupo de professores,
estudantes e militantes dos movimentos sociais, que constituem o
Laboratório de Estudos e Pesquisas Marxistas (LEMARX) e a trilhar o
tortuoso caminho do estudo, da pesquisa e da práxis a partir das
bases teóricas fundadas pela obra marxista.
E são valiosas as contribuições
de inúmeros teóricos marxistas no campo da economia, ciência
política, educação, história, sociologia, direito, arte e
estética. Mas o LEMARX não se constitui somente, nem
principalmente, em um grupo de estudos e pesquisas. O estudo é, para
nós, um ponto de partida para a práxis, para a emancipação
humana. O LEMARX assume claramente seu vínculo com os movimentos
sociais dos trabalhadores, estudantes, camponeses e demais oprimidos.
O LEMARX constrói os conhecimentos junto com os movimentos sociais,
socializa-os, coloca-os à disposição da luta social.
Para finalizar, o LEMARX rende
duas homenagens, nesse momento: a todos os trabalhadores, camponeses,
estudantes e demais oprimidos em suas lutas por melhores condições
de vida e trabalho, por suas conquistas e direitos, por sua
organização e independência de classe, e, em especial, à luta dos
estudantes da UFBA, pelos 46 dias de ocupação e 28 horas de greve
de fome, pela capacidade de se indignarem diante das atrocidades
cometidas pelo governo e pela burocracia contra o ensino público e
pela resistência diante da pressão e do isolamento a que foram
submetidos pelas direções adaptadas ao Estado burguês. Neles a
história se faz passado, presente e futuro. Enquanto os vassalos do
capital serão uma página sombria do devir humano, os estudantes
combativos da UFBA passarão para a história como irmãos fraternos
dos oprimidos.
Como destacou Marx no Prefácio
d'O Capital, de 1867, “segue teu curso, e não te prendas a que os
outros digam”.